segunda-feira, 25 de maio de 2009

Frida Kahlo, maravilhosa e visceral


por Daniel de Souza * - “Que maravilha!” Consta nos diários de Cristóvão Colombo esta frase para descrever os primeiros contatos do navegador genovês com o novo mundo. Séculos mais tarde, o escritor cubano Alejo Carpentier (1904-1980) aplicou o conceito de maravilhoso à realidade do continente americano e à Arte produzida nele.

Para Carpentier, o mágico, o absurdo, ou, se preferirem, o surreal em nosso continente é parte integrante do cotidiano e de nossa realidade. Em nós, diferentemente do que ocorre com os europeus, consciente e subconsciente se fundem num só, num todo, não há uma divisão. Fatos históricos e fenômenos naturais comprovam a magia e a maravilha do continente, basta-nos observar as linhas de Nazca, ou a arquitetura maia, ou ainda o Titicaca, lago navegável mais alto do mundo e berço da civilização inca.

A mestiçagem também é um componente a mais para nos tornar um povo, de certa maneira, mais propenso, mais ligado à magia e ao “absurdo”. Basta ver a nossa religiosidade, misto de religiões africanas, européias e indígenas. O vodu haitiano, o candomblé baiano são testemunhos do quão arraigado está em nossa carne o ilógico, (ilógico aqui quer dizer aquilo que não obedece a uma lógica cartesiana) e o quão arraigado está em nós o onírico, o imaginado.

É neste sentido que o “maravilhosa” do título vem adjetivar Frida Kahlo (1904-1954), pintora “surrealista” mexicana. Diferentemente do que ocorre com os pintores surrealistas europeus, mais notadamente o expoente Salvador Dali, que têm uma grande influência e uma tremenda assimilação das teorias freudianas, em Frida o surrealismo parece ser algo intrínseco, quase que naïf, como se, para ela, aquela fosse a única maneira possível de se expressar e de pintar.

Em Frida o ilógico é a única lógica. Suas metáforas parecem brotar tanto do centro de sua Terra – observar os quadros Eu, o Diego e o senhor Xólotl (1949), Flor da vida (1943), e O Sol e a vida (1947) – quanto de dentro dela mesma – observar as telas O veado ferido (1946), Árvore da esperança (1946), A coluna partida (1944; ao lado), esta última uma das telas mais fortes de todos os tempos.

Para explicar o outro adjetivo, visceral – que vem de vísceras, e quer coisa mais subjetiva do que as próprias vísceras? – teremos que dar uma pincelada em alguns dados biográficos da artista.

Frida Kahlo teve uma vida recheada de dor (é possível criar sem sofrer?). Filha de um pai epiléptico e de uma mãe extremamente religiosa, Frida, aos seis anos, teve poliomielite, o que a deixou com uma perna mais fina que a outra e com o pé esquerdo atrofiado, além de lhe render o apelido de “perna de pau” na escola. Aos dezoito anos, a pintora sofreu um acidente de automóvel, que lhe esmagou a coluna vertebral e lhe deixou impossibilitada de ter filhos. Tudo isso, mais as dúvidas quanto à própria sexualidade e mais a questão da identidade são temas constantes em sua obra.

Para mim, que sou um romântico declarado, a grande Arte é movida muito mais pela paixão que pela razão, e… Frida faz isso. Sua Arte é tão íntima, tão pessoal, tão “ego” que se torna universal, humana, “self”. Suas telas são todas metáforas de fatos, opiniões, sentimentos e situações pessoais. Frida Kahlo nos seduz pelo coração e não pelo intelecto. É mais ou menos o que Vincent Van Gogh também procurava fazer.

Outro aspecto importante a seu respeito, e que não poderia ser deixado à margem, é a questão da arte feminina. Frida é uma das primeiras pintoras a abordar de fato questões relacionadas ao universo das mulheres, como a maternidade, ou a impossibilidade da maternidade, por exemplo (ver as telas Nascimento (1932), A cama voadora (1932) ou ainda a questão da violência contra a mulher, que a pintora retrata tão bem na tela Uns quantos golpes (1935; ao lado).

Toda a obra da pintora é fascinante, mas todo artista tem aquelas obras que de fato são fora do comum, realmente impressionantes e que nos deixam boquiabertos. No caso da mexicana, as duas obras de tirar o fôlego são a já citada A coluna partida e As duas Fridas (1939). Esta, pintada pouco depois do divórcio da pintora com o também pintor Diego Rivera, é um auto-retrato composto por duas personalidades diferentes. No trabalho, Frida trata das emoções envolvidas na separação. A parte de si que era respeitada por Diego Rivera é a Frida mexicana, com trajes pré-colombianos e com uma pequena fotografia nas mãos, enquanto a outra Frida, não tão respeitada assim, leva um vestido branco mais europeu. Os corações das duas mulheres estão expostos e são ligados, um ao outro, apenas por uma artéria e a parte européia de Frida corre o perigo de se esvair em sangue até a morte, uma vez que uma das veias de seu coração, embora meio que obstruída, ainda sangra, manchando de vermelho o belo vestido branco.

É difícil pra mim, quando estudo, ou apenas aprecio a obra de Frida Kahlo, não estabelecer um paralelo com a canção “Beatriz”, do Chico Buarque, principalmente na voz de Milton Nascimento. Se repararmos nas expressões faciais da maioria das telas da artista, perceberemos uma certa imparcialidade de sentimentos, como uma atriz que se despe de si mesma para melhor se enxergar. Olhando somente para seu rosto, fico imaginando, “Será que ela é triste / Será que é o contrário / Será que é pintura… / E se eu pudesse entrar na sua vida…

Então me deparo com o quadro A Máscara (1945), que inverte o principio da máscara, onde encontramos a verdadeira Frida, nua e desesperada. E eu posso entrar na vida dela, mesmo com vinte quatro anos separando sua morte do meu nascimento. Hoje escrevi essas linhas só pra dizer a ela que a amo e a entendo. É pouco, eu sei, mas “Se um dia ela despencar do céu / e se os pagantes exigirem bis / e se um arcanjo passar o chapéu…” quero estar por aqui e ter mãos carinhosas e palavras doces na língua pra dizer a ela.

Beijos, Frida.


* Daniel de Souza Lopes é formado pela UNESP e participou do curso de mestrado em Teoria Literária da USP. É professor de Literatura e Língua Portuguesa e Espanhola do Colégio Objetivo e da Rede Pública Estadual. Lançou recentemente seu primeiro romance, É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela que dança, pela Editora Os Viralata. Blogue: pianistaboxeador21.blogspot.com.

Frida- Pôsters


Trailer - Frida

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Tiros em Columbine - Trailer

Tiros em Columbine – a égide do Medo

Em “Fahrenheit 9/11”, de Michael Moore o Diretor deixa claras as relações entre a família Bush e a Família Bin Laden, da Arábia Saudita, espantando-se com a série de equívocos, detalhes mal explicados pelo governo estadunidense como a providência da retirada de toda a família de Osama Bin Laden logo após o atentado de 11 de setembro de 2001 e as reuniões entre representantes dos interesses da Família Bin Laden e o próprio Jorge Bush (pai). Inquietante e faz-nos refletir em torno de teorias conspiratórias, mas não há como negar: a primeira eleição de Jorge W. Bush (o pequeno) foi complicada e polêmica. Claramente o vencedor foi o democrata Al Gore mas autoridades nomeadas por Jorge Bush (pai) providenciaram a “vitória” de Bush filho. Sua popularidade estava ao rés-do-chão quando do atentado às Torres Gêmeas, o World Trade Center. A partir daquele evento praticamente toda a nação ianque se uniu em torno do seu dirigente demente. No segundo turno Bush – segundo abalizados analistas – estava completamente sem chances. Um pronunciamento de Osama Bin Laden dias antes da votação foi providencial para garantir seu “second term” – segundo mandato. Tudo isso é muito suspeito...

Tiros em Columbine”, de 2002. Selecionado pelos organizadores do Oscar como “Melhor Documentário do Ano”, ao receber o prêmio em 2003, Michael Moore chamou ao palco seus colegas de produção e discursou informando que ele e sua equipe de produção “gostam de não-ficção, mas vivem em tempos fictícios, onde resultados fictícios das eleições americanas elegeram um presidente fictício”.

Ovacionado por uns e execrado por outros, pessoas intransigentes em sua busca pela verdade, como Moore, tendem a ser consideradas polêmicas mesmo...

O fato e a abertura chocante

No dia 20 de abril de 1999, dois jovens estudantes entraram fortemente armados na biblioteca de uma escola pública na pequena Columbine – Littleton – Colorado, mataram doze colegas e um professor, suicidando-se em seguida. Este o mote do filme: tentar compreender os motivos de tanta violência gratuita, absurda e vastamente disseminada na sociedade estadunidense.

Desnecessário enfatizar que não foram armas compradas legalmente, pois os jovens eram menores de idade e não tinham licenciamento, mesmo para a liberal legislação estadunidense.

O fato é que os cidadãos da Nação mais belicosa do mundo têm motivos de sobra para viver sobressaltados, em permanente estado de temor e tremor.

A seqüência de abertura tem um tom fortemente sarcástico: a montagem a partir de um outro filme propagandístico da Indústria Armamentista estadunidense apresenta um militar informando que a Associação Nacional do Rifle – hoje presidida por ninguém menos que Charlton Heston (Ben Hur, Os Dez Mandamentos...) – “produziu um filme que você considerará de grande interesse”. A seguir, ao som do “Battle Hymn of The Republic” (aquela que tem por refrão: “Glory, Glory, Alleluja, The truth is marching on!”) a narração do próprio Michael Moore informa de um dia normal nos Estados Unidos da América – o fazendeiro atua em sua lida, o entregador de leite cumpre o seu papel social, o presidente bombardeou mais um país cujo nome mal conseguimos pronunciar, a professora recebe sua turma para mais uma manhã de aulas e dois estudantes saem para jogar boliche às 6h da manhã. A seguir algo surpreendente: o North Country Bank, de Michigan, oferece um rifle gratuito a quem abrir uma conta. Moore abre a conta e sai da agência ostentando o rifle no ombro.

Armas por toda a parte

Moore apresenta uma sociedade aterrorizada, decidida a tomar sobre si a proteção de seus lares contra o inimigo. Qual inimigo? E isso importa? Importante mesmo é que todos vivam com medo e assim a sociedade seja mantida sob controle, ainda que o preço para isto sejam desvios enlouquecidos.

Em qualquer lugar do mundo, conseguir armas é algo exageradamente simples quando se dispõe de recursos e disposição para tanto, seja oficialmente, seja no mercado negro.

Mas aprofundemos: seria o excesso de armas nas mãos de civis o motivo da violência existente nos EUA? Moore atravessa a fronteira norte e visita algumas cidades do Canadá. Encontra um país com o mesmo – senão ainda maior – número de armas de fogo nas mãos de civis e um índice de violência inacreditavelmente baixo. Entrevistando o Delegado de Polícia de uma cidade canadense de porte médio, percebe-se que ele encontra dificuldade em se recordar quando houve por ali o último homicídio. Após algum diálogo, constata que, para uma cidade aí de uns 500.000 habitantes, há uma média de 1 (UM) homicídio a cada 3 anos.

Outra coisa somente crível porque testemunhada, filmada e documentada é o fato de ninguém no Canadá trancar a porta de suas casas, vivem sem medo! Isto deixa o cineasta tão estarrecido que ele resolve visitar vários bairros de diferentes cidades e testa abrir as portas sem bater. Nenhuma está trancada. Em algumas encontra os moradores, que o recebem com cortesia e uma leve surpresa, mas ninguém no Canadá tranca a porta de suas casas.

Enquanto é relativamente comum nos EUA que as pessoas tenham fechaduras e travas triplas ou quádruplas em suas portas fortificadas e muitos tenham pistolas e revólveres literalmente sob o travesseiro, no Canadá as portas ficam somente encostadas e as armas guardadas em armários para uso em caça...

Tudo aponta na direção de a violência não ter origem direta na quantidade de armas – idêntica nos dois países estudados no documentário – mas antes no viver sob a égide do medo. Quanto a mim sou radicalmente pacifista. É imoral fabricar mísseis mais caros que universidades, injustificável construir tanques de guerra mais onerosos que habitações populares, incrível que uma bala de revólver seja mais cara que um litro de leite. E tudo isto num mundo carente de universidades, moradias, leite...

Não justifico a proliferação de armas, mas convenhamos, não é a ferramenta que causa problemas, mas o mau uso dela. O exemplo do Canadá é fantástico. Outro é o da Suíça, país em que todos os homens maiores de idade – e mulheres que sejam voluntárias – servem à Guarda Nacional do país por seis meses logo que atingem a maioridade e mantêm armas em casa; o país não aparece nas estatísticas de violência contra a pessoa.

Contradições e Paradoxos Deliciosos

Sempre gostei de contradições e paradoxos. E eles abundam no documentário. O gerente de uma fábrica de mísseis de longa distância em Colorado não consegue entender como é que jovens entram numa escola e saem matando pessoas a esmo. E não vê a menor conexão entre a utilidade do que fabrica – armas de destruição em massa – e a cultura da violência em seu país...

O então presidente Bill Clinton aparece em rede nacional de TV justificando um bombardeio na Sérvia, considerando a destruição de escolas e hospitais “casualties of war” – acidentes de guerra – diante de um propósito maior. Uma hora depois a Casa Branca manifesta profundo pesar pelo massacre em Columbine e condena com veemência que se faça nos EUA o que os estadunidenses fazem alhures quase que diariamente...

Conheça mais sobre o trabalho de Michael Moore: www.michaelmoore.com

O Labirinto do Fauno - Trailer

O Labirinto do Fauno de Guillermo Del Toro

O Labirinto do Fauno, do diretor Guillermo Del Toro é visceral, violento, mágico e impressionante. É o retorno da fábula à seu devido lugar e uma história que nos choca e emociona com seus toques líricos e oníricos diante da violência de um país assolado pela Guerra Civil Espanhola.

A criatividade geralmente acontece na quebra de padrões, aplicando uma nova visão a fatos e coisas. Analisar problemas sobre novos ângulos. Perceber detalhes sutis e retirar a poesia da vida. Ver a arte antes mesmo dela existir. Estes são fatores que formam um criativo.

O Labirinto do Fauno


Todos estes elementos se mostram presentes no mexicano Del Toro. O diretor reuniu em El Labirinto del Fauno uma série de metáforas e alegorias, e criou um filme pesado e violento que conta a história de uma menina chamada Ofelia (Ivana Baquero) filha de Carmen (Ariadna Gil), uma mãe viúva que se casa com Vidal (o brilhante Sergi López), um oficial fascista que tenta eliminar guerrilheiros que lutam contra o regime de Francisco Franco. A menina Ofelia é fascinada por fábulas e contos de fadas. Sempre com muitos livros em mãos, se vê obrigada a se mudar com a mãe para o campo onde seu padrasto, que claramente oprime a menina, trava uma intensa luta contra os rebeldes.

O Fauno

Lá ela encontra um labirinto que fará sua imaginação tornar real um mundo mágico repleto de seres míticos. Um deles é o Fauno, uma variação do deus Pan, criatura das possibilidades e do pensamento livre, é a única capaz de saciar seu desejo latente de transformação.

O Fauno então conta a menina que ela era a princesa do mundo subterrâneo, um local onde não se conhecia tristeza e dor. Ela havia fugido para conhecer o mundo dos homens e não retornou mais. Seu pai, o rei, ordenou então que fossem abertos portais por todo o mundo na esperança de que sua filha retornasse.

Ofelia recebe três tarefas que, ao cumpridas, farão com ela retorne a seu mundo e verdadeiros pais. A primeira é retirar uma chave mágica da boca de um sapo gigante que habita as raízes de uma árvore. Depois utilizá-la para conseguir um punhal protegido por um ser pelancudo e com olhos nas mãos. Ela chega até o local onde estão o punhal e este homem pálido através de uma porta aberta com um giz dado pelo Fauno junto com uma observação: não deve, em hipótese alguma, comer nada enquanto estiver cumprindo a missão, coisa que não acontece, já que ela encontra um lindo e suculento banquete. Neste detalhe o diretor nos remete à igreja católica, que apoiou abertamente os fascistas, e pune violentamente os que cedem a tentação. A terceira, e mais difícil, é a de derramar o sangue de um ser inocente: seu próprio irmão.

Pelancudo

No filme não há limites entre fantasia e realidade. Ele aponta caminhos e deixa que você decida em que acreditar. Tanto quem gosta de fadas, lendas e mitologias quanto os mais céticos irão apreciar a história. A crítica social e política somadas a magia da fuga emocional de Ofelia são um mundo único criado pelo fantástico Guillermo Del Toro. O Labirinto do Fauno é imperdível!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O show de Truman - Artigo


Muito antes dessa onda de shows televisivos que invadem a privacidade de pessoas anônimas ou de celebridades (refiro-me a Casa dos Artistas e ao Big Brother) tomarem conta da televisão foi lançado um filme nos cinemas (que fez grande sucesso) cuja temática explora, justamente essa questão tão essencial a todos nós, a privacidade.

Era "O Show de Truman", do competente diretor Peter Weir (o mesmo de "A Testemunha" e "Sociedade dos Poetas Mortos", filmes que merecem ser conferidos), estrelado pelo careteiro Jim Carrey (em seu melhor papel até aquele momento).

Truman (Jim Carrey), o sujeito do tal show, é um inocente, cuja vida tem sido transmitida ao vivo e em cores para os Estados Unidos inteiro em canal de TV paga. Desde o seu nascimento, até o momento em que a história se desenvolve, tudo o que se refere ao personagem de Carrey aparece na TV 24 horas por dia.

O problema é que ele é o único personagem dessa novela da vida real que não sabe o que está acontecendo, tudo o que ocorre ao seu redor é fictício, seu emprego é uma criação, seu casamento uma farsa (assim como foram o romance, a sedução e o namoro com sua esposa), seus amigos estão junto dele por estarem cumprindo um contrato como atores da rede que transmite o "Show de Truman".

Todos e tudo que o cerca são, literalmente, artificiais. Cenários compõe a cidade da vida de Truman, os carros são sempre os mesmos, cumprindo o ritual de rodar a cidade e dar a impressão de que a vida segue seu rumo, sua normalidade. Quando vai ao supermercado e adquire um produto, as imagens de Truman segurando e comprando determinados produtos viram marketing para as mercadorias adquiridas.

Nesse ambiente de mentiras, Truman desperta ao quase ser acertado por uma câmera que despenca do alto dos cenários. Seria Deus tentando alertá-lo ou seria apenas um acidente dos "deuses" da mídia televisiva que o colocam no ar todos os dias?

A partir desse incidente, sua relação com o mundo que o cerca muda completamente, ele passa a desconfiar de tudo e de todos, inicia uma procura incessante pelos olhos eletrônicos que estão a monitorá-lo todo o tempo, começa a duvidar da seriedade dos amigos e da esposa, percebe que o mundo ao seu redor repete-se com uma insistência irritante!

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Numa época como a nossa, quando a discussão acerca dos direitos das pessoas é uma constante nos cenários nacional e internacional, a questão da privacidade sendo invadida por câmeras de televisão merece uma discussão acalorada em sala de aula. Muitos se perguntam os motivos que levam pessoas a enfrentar, conscientemente, o desafio de serem vistos diariamente por milhões de pessoas como o que ocorre com os já citados programas veiculados por canais abertos e fechados. Alguns, cedem a tentação da fama instantânea, conseguida graças a superexposição na mídia mais procurada por todas as classes sociais, a TV. É um tiro certeiro, as pessoas são reconhecidas nas ruas, tornam-se familiares a milhões de desconhecidos por invadirem seus lares através das telinhas e, com maior ou menor habilidade, conseguem ficar em evidência por mais alguns meses mesmo depois do programa terminar. Outras pessoas arriscam o espaço, a individualidade e, em muitos casos, correm o sério risco de se exporem ao ridículo movidas pelos prêmios milionários dados aos vencedores dessas verdadeiras maratonas.

Mas, e no caso de Truman, levado ao estrelato sem consulta prévia, na mais pura inocência, desconhecedor de sua própria história de vida? Não há dinheiro movendo suas ações, assim como, no seu cotidiano ele não consegue imaginar a repercussão de seus atos e o montante de popularidade por ele obtidos junto ao grande público que acompanha sua "novela da vida real".

Os direitos aos quais temos acesso não terminam quando começam os dos outros? A manipulação da rede de televisão que controlava o "Show de Truman" não consistia portando um desrespeito a um dos direitos essenciais da cidadania? Em que consiste a cidadania senão na consideração pelos outros e por suas dignidades? Não deve existir (e pelo que sei, já existe) por parte das emissoras de televisão um código de ética que não os faça lesar a integridade física e moral das pessoas que são apresentadas em seus programas? O próprio conceito de ética, foi criado para ser violado ou tem valor real e deve, por isso ser respeitado?

Discussões como essas podem nos levar a fomentar aulas interessantes em história, relacionando com o surgimento das Declarações dos Direitos Humanos em diferentes contextos, como no da Revolução Francesa ou no do final da 2ª Guerra Mundial (na época da criação da ONU); pode alimentar interessantes debates para a área de redação, com o adendo de que, o professor pode se utilizar de textos extraídos de jornais ou revistas que façam um contraponto, um termo de arguição e aprofundamento; pode servir como indicador de caminhos para aulas de filosofia e pode gerar o questionamento da questão da própria ética na sociedade em que estamos inseridos.

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Por outro lado, o filme nos lança uma situação das mais interessantes ao afirmar a vida cotidiana como o maior dos espetáculos. Momentos tão desprezados de nossas existências quando realçados pelo brilho dos refletores das câmeras de TV parecem ganhar em vigor, fôlego e graça. Um abraço numa criança, a reunião com os amigos depois do expediente, ler um livro ou dar um beijo na mulher amada ganham contornos de grandes acontecimentos. Será que nós não estamos deixando essas cenas da vida real passarem sem dar a elas o verdadeiro reconhecimento e valor que elas merecem?

O show de Truman Ficha Técnica


Título Original: The Truman Show
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 102 minutos
Ano de Lançamento (EUA):
1998
Site Oficial: www.truman-show.com
Estúdio: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures / UIP
Direção: Peter Weir
Roteiro: Andrew Niccol
Produção: Edward S. Feldman, Andrew Niccol, Scott Rudin e Adam Schroeder
Música: Philip Glass e Burkhart von Dallwitz
Direção de Fotografia: Peter Biziou
Desenho de Produção: Dennis Gassner
Direção de Arte: Richard L. Johnson
Figurino: Marilyn Matthews
Edição: William M. Anderson e Lee Smith
Efeitos Especiais: The Computer Film Company / Cinesite Hollywood / EDS Digital Studios


seta3.gif (99 bytes) Elenco
Jim Carrey (Truman Burbank)
Ed Harris (Christof)
Laura Linney (Meryl)
Noah Emmerich (Marlon)
Natascha McElhone (Lauren Garland / Sylvia)
Holland Taylor (Mãe de Truman)
Brian Delate (Pai de Truman)
Blair Slater (Jovem Truman)
Peter Krause (Lawrence)
Heidi Schanz (Vivien)
Ron Taylor (Ron)
Don Taylor (Don)
Paul Giamatti (Diretor da Sala de Controle)
Philip Baker Hall (Executivo)



seta3.gif (99 bytes) Sinopse
Pacato vendedor de seguros (Jim Carrey) tem sua vida virada de cabeça para baixo quando descobre que é o astro, desde que nasceu, de um show de televisão dedicado a acompanhar todos os passos de sua existência.



seta3.gif (99 bytes) Pôsters
- Clique nos cartazes para vê-los ampliados em uma nova janela.
show-de-truman-poster01t.jpg (4682 bytes)show-de-truman-poster02t.jpg (4447 bytes)show-de-truman-poster03t.jpg (4303 bytes)


seta3.gif (99 bytes) Imagens
- Clique nas imagens para vê-las ampliadas em uma nova janela.
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seta3.gif (99 bytes) Premiações
- Recebeu 3 indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Ed Harris) e Melhor Roteiro Original.


- Ganhou 3 Globos de Ouro: Melhor Ator - Drama (Jim Carrey), Melhor Ator Coadjuvante (Ed Harris) e Melhor Trilha Sonora. Foi ainda indicado em outras 3 categorias: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.


seta3.gif (99 bytes) Curiosidades
- A Paramount Pictures, produtora do filme, criou o site do Truman Liberation Front, www.freetruman.com , que tem pôsters, banners e mensagens de pessoas se manifestando contra o programa de tv baseado em Truman.


- O ator que originalmente faria o papel de Christof era Dennis Hopper, que não chegou a gravar nenhuma cena como o personagem. O diretor Peter Weir decidiu substituí-lo por Ed Harris, que terminou sendo indicado ao Oscar pelo papel.

- Este é o 1º de 2 filmes em que Jim Carrey e Philip Baker Hall atuaram juntos. O posterior foi Todo Poderoso (2003).


- Todas as ruas da cidade onde reside Truman Burbank têm nomes de atores, como Lancaster Square ou Barrymore Road.

- O nome do barco de Truman é Santa Maria, o mesmo nome de um das caravelas de Cristóvão Colombo quando chegou à América.

O show de Truman - Poster

O show de Truman - Trailer

sábado, 28 de março de 2009

Leon Hirszman o navegador das estrelas


Leon Hirszman foi um dos fundadores do Cinema Novo, movimento que começou a se esboçar no início dos anos 60 e se firmou ao longo daquela década, agrupando jovens diretores que renovaram temática e artisticamente a produção cinematográfica brasileira. A interação de Hirszman com esse movimento foi sempre de tal ordem que hoje, decorridos dez anos de sua morte, ele ainda é lembrado por seus pares como um elemento aglutinador, ou, nas palavras de Cacá Diegues, "O maior articulador que o cinema brasileiro já teve" e um "exemplo de convivência universal", como proclama Nelson Pereira dos Santos. Esse reconhecimento põe em relevo características muito especiais desse artista que sempre se mostrou preocupado em pensar a cultura brasileira e que ao longo de três décadas transitou pelas diferentes esferas da nossa vida cultural.

Filho de judeus poloneses que emigraram para o Brasil nos anos 30, Leon Hirszman nasceu num subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro em 1937. Apaixonado por música popular e pelo cinema desde garoto, formou-se no entanto em engenharia. Leitor ávido de novas idéias, passou do socialismo lírico para o marxismo e a militância comunista. Mas o racionalista, que amava o debate e o discurso claro e convincente, era também um ser humano apaixonado e até místico. Essa contradição fez dele um criador de múltiplas faces, do que dá testemunho sua filmografia, onde se alinham obras A falecida, Garota de Ipanema, São Bernardo, Eles não usam black-tie exemplos da melhor ficção cinematográfica, e documentário como ABC da greve, Partido alto, a série intitulada Cantos de trabalho, um apanhado da diversidade musical do Brasil, e, sobretudo, Imagens do inconsciente, uma trilogia que incursiona pelos universos interiores revelados pelas atividades artísticas de três freqüentadores do setor de Terapêutica Ocupacional fundado e dirigido pela Dra. Nise da Silveira no Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro.

Esta biografia, que restitui em toda a sua integridade a figura do cineasta Leon Hirszman, é o resultado de um meticuloso trabalho de pesquisa empreendido pela jornalista e escritora Helena Salem. Com a experiência adquirida na elaboração de Nelson Pereira dos Santos: O sonho possível do cinema brasileiro, já em segunda edição, e de 90 anos de cinema: uma aventura brasileira, Helena Salem logo se deu conta da necessidade de fazer o mesmo percurso interdisciplinar do seu biografado. Daí que, além de consultar o vasto material de imprensa da época, a bibliografia pertinente e os filmes do diretor, entrevistou dezenas de interlocutores de Leon Hirszman: diretores de cinema (Walter Lima Jr, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Eduardo Escorel, Bernardo Bertolucci, entre outros), atores (Fernanda Montenegro, Othon Bastos), músicos (Caetano Veloso, Edu Lobo), fotógrafos (Lauro Escorel, Luís Carlos Saldanha), economistas (Maria da Conceição Tavares), filósofos (Leandro Konder), psicanalistas (Joel Birman), psiquiatras (Nise da Silveira), além de familiares e amigos. Os testemunhos dessas pessoas permitiram à autora matizar a personalidade e o pensamento desse artista que deixou uma obra extensa, variada e fascinante. Obra que é estudada com apurado senso crítico por Helena Salem - o que enriquece extraordinariamente o seu livro e o torna indispensável para se conhecer um período importante da cinematografia nacional.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O ano que nossos pais sairam de ferias


É certo que a maioria dos filmes brasileiros procuram retratar nossos problemas políticos e sociais como contrapartes às belezas do nosso país - O ano em que meus pais saíram de férias não é exceção. Mas poucos filmes são tão brasileiros como o do quase estreante Cao Hamburger, cujos primeiros trabalhos eram para televisão (geralmente infantil) e teve experiência única no cinema com Castelo Rá-Tim-Bum (1999). O Brasil é fortemente tratado nesse filme, que mais uma vez fala sobre a ditadura militar, mas desta vez por uma perspectiva diferente (superficial) e com estilo e história bem afastados dessa leva de filmes.

Mauro, jovem mineiro apaixonado por Futebol, é levado às pressas para São Paulo, onde passará um tempo com seu avô, enquanto seus pais supostamente viajam de férias. Ao chegar na sua temporária casa o garoto se depara com uma realidade difícil ao saber que seu avô não o receberá da forma esperada, seus pais não tem previsão para voltar e não conseguem entrar em contato, e as pessoas agora responsáveis por ele não estavam nem um pouco preparadas. Ele acaba então se aproximando de um velho judeu (Shlomo) e de um grupo de garotos que moram no mesmo prédio, criando amizades importantes mas frágeis, já que as únicas coisas que aparentemente alegram o menino são o futebol e a expectativa de que seus pais o levarão o mais breve possível para casa.

A produção obteve sucesso ao contar a história da maneira mais politicamente correta e familiarmente divertida possível. O retrato da empolgante copa do mundo de 1970 ao mesmo tempo em que a ditadura atinge elevados índices de repressão e o garoto passa por momentos difíceis da sua vida é marcante. A aflição da história que, desde o seu início parece ter um fim óbvio e trágico, é muito bem amenizada pelas paixões do protagonista, em especial o futebol, e sua aproximação com algumas personagens interessantes.

O desenvolvimento de alguns dos principais papéis, em especial o do teimoso Mauro (Michel Joelsas) e o da desinibida jovem Hanna (Daniela Pipeszyk), valem as curtas 1 hora e 40 minutos de filme. Mas é no complemento às personagens e tramas principais que o filme pode deixar a desejar. Muitos pontos interessantes deixam de ser melhor explorados (o misterioso namorado na moto, o amigo revolucionário do pai) enquanto que partes nem tão importantes arriscam diminuir a qualidade do filme. Temos a impressão de que todos os ingredientes foram bem escolhidos e inseridos, mas pouco trabalhados. A superficialidade da história acaba por inibir qualidades importantes, e a copa do mundo e as brincadeiras com os amigos acabam tomando um destaque especial mas levemente apelativo na trama.

Enfim, é um filme que supera com tranqüilidade outras obras nacionais do ano. Um filme família que contagia e diverte todos os gostos, que não deixa de destacar o orgulho de ser brasileiro, mesmo na difícil época retratada. É também um filme sobre povos e culturas, o que certamente facilitou sua aceitação em premiações. O retrato dos judeus, italianos e gregos catapulta as chances de “O Ano” ganhar prêmios e reconhecimento (Oscar?), mas fazendo um julgamento mais frio a obra não chega ao patamar de outros grandes filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus ou Tropa de Elite. O último, esse sim, merecendo essa vaga e outra meia dúzia de indicações e prêmios – mas não é difícil entender o porque de ter perdido espaço para o mais correto, digerível e sentimental O Ano em que meus pais saíram de férias. Contudo, vendo por todas as outras perspectivas, é um filme que orgulhosamente representa o Brasil nos festivais do mundo, e merece nosso reconhecimento e torcida.

Bodão

Direção: Cao Hamburger.
Elenco/Vozes: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Simone Spoladare, Eduardo Moreira, Caio Blat, Paulo Autran.

O ano que nossos pais sairam de ferias - Trailer

quarta-feira, 4 de março de 2009

Fahrenheit 451 - Trailer

Fahrenheit 451 - Poster

Fahrenheit 451


Num futuro próximo, os bombeiros locais têm por função queimar todo tipo de material impresso, que é considerado como propagador da infelicidade. Até que um dos bombeiros começa a questionar os motivos que fazem com que ele e seus colegas queimem livros e revistas. Dirigido por François Truffaut (A Sereia do Mississipi) e com Julie Christie no elenco.


seta3.gif (99 bytes) Ficha Técnica
Título Original: Fahrenheit 451
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 1966
Estúdio: Anglo Enterprises / Vineyard
Distribuição: Universal Pictures
Direção: François Truffaut
Roteiro: Jean-Louis Richard e François Truffaut, baseado em livro de Ray Bradbury
Produção: Lewis M. Allen
Música: Bernard Herrman
Desenho de Produção: Syd Cain e Tony Walton
Direção de Arte: Syd Cain
Figurino: Tony Walton
Edição: Thom Noble
Efeitos Especiais: Bowie Films Ltd.


seta3.gif (99 bytes) Elenco
Oskar Werner (Guy Montag)
Julie Christie (Linda / Clarisse)
Cyril Cusack (Capitão)
Anton Diffring (Fabian)
Anna Palk (Jackie)
Ann Bell (Doris)
Caroline Hunt (Helen)
Jeremy Spenser
Bee Duffell
Alex Scott
Michael Balfour



seta3.gif (99 bytes) Sinopse
Em um Estado totalitário em um futuro próximo, os "bombeiros" têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que literatura é um propagador da infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer viva.



seta3.gif (99 bytes) Pôsters
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seta3.gif (99 bytes) Imagens
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seta3.gif (99 bytes) Premiações
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seta3.gif (99 bytes) Curiosidades
- O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.


- Fahrenheit 451 é o único filme em inglês dirigido por François Truffaut.

- Todos os créditos de diretor, roteiristas, elenco, produtores, música, fotografia e até mesmo o nome do filme são narrados em off, não aparecendo nada escrito na tela. Apenas surge, no final, o tradicional "The End" e o nome do estúdio que produziu Fahrenheit 451.

- Entre os livros queimados pelos bombeiros está a revista Cahiers du Cinema, para a qual o próprio diretor François Truffaut escrevia na época.

- Após o término da montagem de Fahrenheit 451, o diretor François Truffaut declarou estar decepcionado com a versão original do filme, pois não gostou de alguns diálogos em inglês. Truffaut declarou ainda que preferia a versão dublada em francês do filme, cuja tradução foi inclusive supervisionada por ele.