quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Comparar este filme com o seriado Malhação é até pecado..."

Possivelmente os jovens e adolescente se identificarão mais, até porque o filme é tudo aquilo que eles vivem nos dias de hoje, mas não deixo a idéia de que os adultos também possam gostar, até porque todos eles já tiveram suas fases. E se tem um filme sobre o cotidiano dos adolescentes que merecem reconhecimento, é esse. Comparar este filme com o seriado Malhação” é até pecado, e por mais que possa parecer , pois tem tudo aquilo, jovens, sexo, namoro, virgindade, relações familiares, pegação, festas e essas coisas, tudo isso, aqui neste filme, vai mais além do que “Malhação”.
Na verdade o filme não tem sinopse, não tem um centro para toda a história, o filme nada mais é do que o cotidiano dos estudantes. As inúmeras experiências que passamos, as relações com os amigos na escola e os professores, podemos facilmente nos ver no filme. A dupla Laís Bodanzky (diretora) e Luiz Bolognesi (roterista) fizeram um filme totalmente simbólico da vida dos adolescentes. Vários temas debatidos no filme como a homossexualidade, o preconceito, alunos apaixonados pelo professor, intrigas no colégio, sexo na casa de prostituição, festas e drogas liberadas, aquele certo maxismo por meio deles em excluir uma pessoa por ela ser virgem ou por ela não usar drogas como os outros usam. Esse pontos discutidos no filme traz todo um debate sobre o rumos e caminhos que tomamos, e muitos dos espectadores facilmente se identificarão com os personagens.
Francisco Miguez, que interpreta Mano, o ator central do filme, fez um trabalho excelente, percebem os gestos de timidez e insegurança que ele faz sem se esforçar muito dando ao seu personagem toda aquela simplicidade. Sendo ele o personagem central do filme, é ele que irá sofrer e viver todos esses assuntos discutidos. A separação dos seus pai, as brigas do irmão com a mãe, as amizades falsas, as paixões da adolescência pelas garotas da escola, os vícios das drogas, e tudo mais. Já Fiuk, que interpreta Pedro, o irmão de Mano, tem uma atuação bem ruim e forçada. As discussões com a mãe são totalmente forçada, sem graça e sem emoção e por muitas das vezes ele seu personagem ficava sem expressão. E pra quem comanda uma turma de atores inexperientes, o filme ter aquele ar de naturalidade. Denise Fraga, que interpreta a mãe, já não é novata nem nada, atua excelentemente, transpõe aquele amor de mãe, e sem dúvidas a relação delas com o filho é apaixonante. Ponto para a cena do ovo na parede, divertida e tocante.

Lógico que assistindo novamente nossa adolescência, não poderia faltar o humor. Cenas de humor bem elaboradas e não são aquelas cenas clichês pra nos fazer rir, é simplismente pelas situações vividas pelo personagem. O filme já se inicial com Mano e seus amigos indo pra uma casa de prostituição para perder a virgindade e as cenas de humor construídas conseguem nos pegar pelo simples fato de tudo aquilo já ter acontecido com muitos de nós. A cena que ele volta da casa de uma amiga depois de ter transado com ela montado na bicicleta e com um sorriso de orelha à orelha, o cinema inteiro riu. Ou então a cena em que Mano se masturba dentro do quarto e sua mãe chaga na hora.
Mas se por um lado a diretora acerta, por outro ela erra. As frase de efeito usada são no mínimo gratuitas. Percebe-se as frases que os personagens falam a fim de fazer rir como “Fulano é gay, todo mundo vai me zoar no colégio, o que eu faço agora?” ou então “com tanta gente nesse mundo, porque isso foi acontecer logo com nossa família, Porra, tamo ferrado”, essas frases mal elaboradas tem menos efeito do que a cena em que eles jogam ovo na parede por exemplo, que é muito mais engraçada e inteligente.
Não é nenhuma obra-prima nacional até porque tem muito pontos negativos também, como a previsibilidade, mas é um filme pra ficar marcado no cinema brasileiro, e eu que não sou muito fã dele, me surpreendi com este filme que me fez entrar no cinema sem expressão e sair com um sorriso de orelha a orelha. E não é que tudo aquilo teve um fim, pelo contrário, tudo aquilo pode muito bem continuar, as injustiças no colégio dele, a fase difícil que o irmão dele estava passando (me pergunto até hoje se existem mesmo essas pessoas que falam da sua vida pessoais nos blogs), a namorada dele, enfim. quem disse que eles ficarão juntos para sempre? quem disse que aquele final não pode acontecer de novo com o irmão dele? Ou quem disse que o pai dele continuará com a pessoa que ele estava se relacionando? Mais uma prova de que tudo no filme foi apenas pra nos mostrar esses temas que tanto nos deparamos nos dias de hoje, e Laís Bodanzky foi feliz em fazer isso.

por Andinhu S. de Souza

Logo do Filme

Crítica: As Melhores Coisas do Mundo

Uma das grandes críticas sobre os filmes brasileiros é a temática, que sempre recai sobre o árido nordeste ou a miséria e violência que vêm das periferias. Neste ponto, a cineasta Laís Bodanzky (O Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade) já se destaca. As Melhores Coisas do Mundo (2010), seu terceiro longa-metragem, foge mais uma vez do "Brasil para exportação" ao falar dos adolescentes da classe média. E não se engane: apesar do cenário principal ser um colégio paulistano e as ruas da cidade aparecerem bastante também, a trama podia se passar em qualquer lugar, do Rio de Janeiro a Nova York ou Tóquio, com poucas modificações, pois fala de pessoas e não situações.
O personagem principal é Mano (Francisco Miguez), um adolescente de 15 anos que está enfrentando todos os problemas que vêm com a idade - a cobrança dos amigos para perder a virgindade, a busca por um lugar na sociedade, a paixão não correspondida, etc. - e ainda o bônus que é ver seus pais (Denise Fraga e Zé Carlos Machado) se separarem. Seus melhores amigos são Carol (Gabriela Rocha) e Deco (Gabriel Ilanes). E seu confidente, o professor de violão Marcelo (Paulo Vilhena).
Os cineastas, todos já bem mais velhos que os personagens que estavam criando, sabiam do enorme risco que estavam correndo ao tentar recriar nas telas o selvagem meio-ambiente das fofocas, inseguranças e traições, e da forma como a mídia atual, com SMS e YouTube, viraliza instantaneamente as informações, tornando o cyberbullying um dos maiores problemas da atualidade. Verdades, mais do que nunca, são relativas e segredos têm o prazo de validade cada vez mais curto.
Por isso o roteirista Luiz Bolognesi, não parou sua pesquisa apenas na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. O script foi refinado com a ajuda de adolescentes, que em conversas com a equipe ajudaram a mapear essa geração e deram ao trabalho situações e diálogos que fazem parte do seu dia-a-dia, trazendo toda a realidade que a trama pede. O resto ficou por conta dos atores - quase todos sem experiências anteriores -, que trabalharam em cima do que estava escrito, mas com margem para pequenas improvisações.
Mas não dá para reduzir toda uma geração a blogs, o estilinho Gossip Girl, SMS e fotos pelo celular. A informação digital, que é cada vez mais descartável, ainda não conseguiu matar de vez o gosto de escrever na agenda, manter um diário com papel e caneta. É o caso de Carol, que compartilha apenas com o seu moleskine o que está pensando, sem precisar publicar na Internet cada interrogação que surge. É o caso também da canção Something, dos Beatles, que contrapõe a volatilidade dos hits de hoje, que evaporam mais rapidamente do que o download de um torrent.
Em uma das cenas do filme, a reunião na escola, uma das mães levanta a mão para falar que "O mundo mudou muito nestes últimos cinco, dez anos", e imagino que ninguém tenha coragem de discordar dessa afirmação. A boa notícia é que As Melhores Coisas do Mundo vem para ajudar a responder algumas das dúvidas dos pais, esclarecer outras para os adolescentes e, principalmente, mostrar que o cinema brasileiro não se resume a fome e miséria.

Marcelo Forlani

Trailes das Melhores coisas do mundo