sábado, 28 de março de 2009

Leon Hirszman o navegador das estrelas


Leon Hirszman foi um dos fundadores do Cinema Novo, movimento que começou a se esboçar no início dos anos 60 e se firmou ao longo daquela década, agrupando jovens diretores que renovaram temática e artisticamente a produção cinematográfica brasileira. A interação de Hirszman com esse movimento foi sempre de tal ordem que hoje, decorridos dez anos de sua morte, ele ainda é lembrado por seus pares como um elemento aglutinador, ou, nas palavras de Cacá Diegues, "O maior articulador que o cinema brasileiro já teve" e um "exemplo de convivência universal", como proclama Nelson Pereira dos Santos. Esse reconhecimento põe em relevo características muito especiais desse artista que sempre se mostrou preocupado em pensar a cultura brasileira e que ao longo de três décadas transitou pelas diferentes esferas da nossa vida cultural.

Filho de judeus poloneses que emigraram para o Brasil nos anos 30, Leon Hirszman nasceu num subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro em 1937. Apaixonado por música popular e pelo cinema desde garoto, formou-se no entanto em engenharia. Leitor ávido de novas idéias, passou do socialismo lírico para o marxismo e a militância comunista. Mas o racionalista, que amava o debate e o discurso claro e convincente, era também um ser humano apaixonado e até místico. Essa contradição fez dele um criador de múltiplas faces, do que dá testemunho sua filmografia, onde se alinham obras A falecida, Garota de Ipanema, São Bernardo, Eles não usam black-tie exemplos da melhor ficção cinematográfica, e documentário como ABC da greve, Partido alto, a série intitulada Cantos de trabalho, um apanhado da diversidade musical do Brasil, e, sobretudo, Imagens do inconsciente, uma trilogia que incursiona pelos universos interiores revelados pelas atividades artísticas de três freqüentadores do setor de Terapêutica Ocupacional fundado e dirigido pela Dra. Nise da Silveira no Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro.

Esta biografia, que restitui em toda a sua integridade a figura do cineasta Leon Hirszman, é o resultado de um meticuloso trabalho de pesquisa empreendido pela jornalista e escritora Helena Salem. Com a experiência adquirida na elaboração de Nelson Pereira dos Santos: O sonho possível do cinema brasileiro, já em segunda edição, e de 90 anos de cinema: uma aventura brasileira, Helena Salem logo se deu conta da necessidade de fazer o mesmo percurso interdisciplinar do seu biografado. Daí que, além de consultar o vasto material de imprensa da época, a bibliografia pertinente e os filmes do diretor, entrevistou dezenas de interlocutores de Leon Hirszman: diretores de cinema (Walter Lima Jr, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Eduardo Escorel, Bernardo Bertolucci, entre outros), atores (Fernanda Montenegro, Othon Bastos), músicos (Caetano Veloso, Edu Lobo), fotógrafos (Lauro Escorel, Luís Carlos Saldanha), economistas (Maria da Conceição Tavares), filósofos (Leandro Konder), psicanalistas (Joel Birman), psiquiatras (Nise da Silveira), além de familiares e amigos. Os testemunhos dessas pessoas permitiram à autora matizar a personalidade e o pensamento desse artista que deixou uma obra extensa, variada e fascinante. Obra que é estudada com apurado senso crítico por Helena Salem - o que enriquece extraordinariamente o seu livro e o torna indispensável para se conhecer um período importante da cinematografia nacional.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O ano que nossos pais sairam de ferias


É certo que a maioria dos filmes brasileiros procuram retratar nossos problemas políticos e sociais como contrapartes às belezas do nosso país - O ano em que meus pais saíram de férias não é exceção. Mas poucos filmes são tão brasileiros como o do quase estreante Cao Hamburger, cujos primeiros trabalhos eram para televisão (geralmente infantil) e teve experiência única no cinema com Castelo Rá-Tim-Bum (1999). O Brasil é fortemente tratado nesse filme, que mais uma vez fala sobre a ditadura militar, mas desta vez por uma perspectiva diferente (superficial) e com estilo e história bem afastados dessa leva de filmes.

Mauro, jovem mineiro apaixonado por Futebol, é levado às pressas para São Paulo, onde passará um tempo com seu avô, enquanto seus pais supostamente viajam de férias. Ao chegar na sua temporária casa o garoto se depara com uma realidade difícil ao saber que seu avô não o receberá da forma esperada, seus pais não tem previsão para voltar e não conseguem entrar em contato, e as pessoas agora responsáveis por ele não estavam nem um pouco preparadas. Ele acaba então se aproximando de um velho judeu (Shlomo) e de um grupo de garotos que moram no mesmo prédio, criando amizades importantes mas frágeis, já que as únicas coisas que aparentemente alegram o menino são o futebol e a expectativa de que seus pais o levarão o mais breve possível para casa.

A produção obteve sucesso ao contar a história da maneira mais politicamente correta e familiarmente divertida possível. O retrato da empolgante copa do mundo de 1970 ao mesmo tempo em que a ditadura atinge elevados índices de repressão e o garoto passa por momentos difíceis da sua vida é marcante. A aflição da história que, desde o seu início parece ter um fim óbvio e trágico, é muito bem amenizada pelas paixões do protagonista, em especial o futebol, e sua aproximação com algumas personagens interessantes.

O desenvolvimento de alguns dos principais papéis, em especial o do teimoso Mauro (Michel Joelsas) e o da desinibida jovem Hanna (Daniela Pipeszyk), valem as curtas 1 hora e 40 minutos de filme. Mas é no complemento às personagens e tramas principais que o filme pode deixar a desejar. Muitos pontos interessantes deixam de ser melhor explorados (o misterioso namorado na moto, o amigo revolucionário do pai) enquanto que partes nem tão importantes arriscam diminuir a qualidade do filme. Temos a impressão de que todos os ingredientes foram bem escolhidos e inseridos, mas pouco trabalhados. A superficialidade da história acaba por inibir qualidades importantes, e a copa do mundo e as brincadeiras com os amigos acabam tomando um destaque especial mas levemente apelativo na trama.

Enfim, é um filme que supera com tranqüilidade outras obras nacionais do ano. Um filme família que contagia e diverte todos os gostos, que não deixa de destacar o orgulho de ser brasileiro, mesmo na difícil época retratada. É também um filme sobre povos e culturas, o que certamente facilitou sua aceitação em premiações. O retrato dos judeus, italianos e gregos catapulta as chances de “O Ano” ganhar prêmios e reconhecimento (Oscar?), mas fazendo um julgamento mais frio a obra não chega ao patamar de outros grandes filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus ou Tropa de Elite. O último, esse sim, merecendo essa vaga e outra meia dúzia de indicações e prêmios – mas não é difícil entender o porque de ter perdido espaço para o mais correto, digerível e sentimental O Ano em que meus pais saíram de férias. Contudo, vendo por todas as outras perspectivas, é um filme que orgulhosamente representa o Brasil nos festivais do mundo, e merece nosso reconhecimento e torcida.

Bodão

Direção: Cao Hamburger.
Elenco/Vozes: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Simone Spoladare, Eduardo Moreira, Caio Blat, Paulo Autran.

O ano que nossos pais sairam de ferias - Trailer

quarta-feira, 4 de março de 2009

Fahrenheit 451 - Trailer

Fahrenheit 451 - Poster

Fahrenheit 451


Num futuro próximo, os bombeiros locais têm por função queimar todo tipo de material impresso, que é considerado como propagador da infelicidade. Até que um dos bombeiros começa a questionar os motivos que fazem com que ele e seus colegas queimem livros e revistas. Dirigido por François Truffaut (A Sereia do Mississipi) e com Julie Christie no elenco.


seta3.gif (99 bytes) Ficha Técnica
Título Original: Fahrenheit 451
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 112 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 1966
Estúdio: Anglo Enterprises / Vineyard
Distribuição: Universal Pictures
Direção: François Truffaut
Roteiro: Jean-Louis Richard e François Truffaut, baseado em livro de Ray Bradbury
Produção: Lewis M. Allen
Música: Bernard Herrman
Desenho de Produção: Syd Cain e Tony Walton
Direção de Arte: Syd Cain
Figurino: Tony Walton
Edição: Thom Noble
Efeitos Especiais: Bowie Films Ltd.


seta3.gif (99 bytes) Elenco
Oskar Werner (Guy Montag)
Julie Christie (Linda / Clarisse)
Cyril Cusack (Capitão)
Anton Diffring (Fabian)
Anna Palk (Jackie)
Ann Bell (Doris)
Caroline Hunt (Helen)
Jeremy Spenser
Bee Duffell
Alex Scott
Michael Balfour



seta3.gif (99 bytes) Sinopse
Em um Estado totalitário em um futuro próximo, os "bombeiros" têm como função principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que literatura é um propagador da infelicidade. Mas Montag (Oskar Werner), um bombeiro, começa a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer viva.



seta3.gif (99 bytes) Pôsters
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seta3.gif (99 bytes) Imagens
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seta3.gif (99 bytes) Premiações
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seta3.gif (99 bytes) Curiosidades
- O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados. Convertido para Celsius, esta temperatura equivale a 233 graus.


- Fahrenheit 451 é o único filme em inglês dirigido por François Truffaut.

- Todos os créditos de diretor, roteiristas, elenco, produtores, música, fotografia e até mesmo o nome do filme são narrados em off, não aparecendo nada escrito na tela. Apenas surge, no final, o tradicional "The End" e o nome do estúdio que produziu Fahrenheit 451.

- Entre os livros queimados pelos bombeiros está a revista Cahiers du Cinema, para a qual o próprio diretor François Truffaut escrevia na época.

- Após o término da montagem de Fahrenheit 451, o diretor François Truffaut declarou estar decepcionado com a versão original do filme, pois não gostou de alguns diálogos em inglês. Truffaut declarou ainda que preferia a versão dublada em francês do filme, cuja tradução foi inclusive supervisionada por ele.