quarta-feira, 7 de abril de 2010

Feios, Sujos e Malvados

"Comédia a la Italiana, esse é um filme dos anos 70 que retrata da forma mais engraçada e caricata possível a realidade de quem vive em favelas. Protagonizado pelo ator Nino Manfredi, na pele Giancinto Mazzatella, um pai de família que vive em pé de guerra com seus 10 filhos, sua esposa, em um minúsculo barraco de madeira numa favela em Roma. Imaginem a confusão, mas não para por aí, Giacinto recebe uma quantia farta do seguro por ocasional acidente de trabalho, o clima esquenta de verdade. Ele passa a se afastar da família aos poucos, pois todos cientes da "bolada" que o pai recebeu, começam a bajula-lo com a intenção de receber alguma caridade; um quer ser barbeiro e montar a sua barbearia, o outro quer uma moto nova, a vovó quer uma tv nova, a esposa quer tratamentos de beleza, enfim todos querem uma fatia do bolo. Giancinto finge não ser com ele, não se importa com os clamores da família, pois, ele chega a conclusão que eles só querem a sua grana e mais nada, só querem sugar. Tentam rouba-lo a noite, ele esconde o dinheiro toda vez que sai para beber. O mais engraçado está por vir. Entre várias brigas, ele acaba baleando um de seus filhos, e vai para a cadeia, o delegado já não aguenta mais ver a cara de Giacinto, promete que se ele voltar mais uma vez, não sairá tão cedo da cadeia, Giacinto se defende. Hilário, mas ao mesmo tempo degradante. Enfim, Giancinto parece encontrar uma pessoa que o compreende, Iside, uma garota obesa, que ele acaba conhecendo em um momento de reflexão sobre a vida, após mais uma bebedeira. Os dois parecem ter nascido um para o outro, trocam confissões, se divertem. Giacinto decide levar Iside para morar em seu barraco, toda a família está em casa, ele convida Iside para compartilharem o mesmo leito. Sempre embriagado e ignorante, ele declara que Iside agora vive ali, e quem não concordar que saia agora mesmo. A família se revolta, a situação se torna crítica, como viver daquela forma, o pai leva para casa a primeira estranha que encontra na rua, insustentável para eles. Prometem vingança contra o pai, à família ele não dava um "tostão furado", sua amante ele tratava com uma princesa, resolvem mata-lo. Chegam em um consenso, decidem mata-lo. Bem o final...confira você mesmo! O filme é classificado como comédia, e verdadeiramente o é, porém vale ressaltar a forma realistica em que a vida é mostrada, não foge muito ao que nós vemos por aí, a luta diária contra a pobreza, a doença, a falta de condição, de perspectiva, acaba sendo de alguma forma um filme dramático também. Lhes falta tudo, todavia não falta uma coisa, a alegria de viver. Altamente recomendado para quer dar umas boas risadas. Clássico do cinema italiano". Por Rodrigo HM.









terça-feira, 6 de abril de 2010

Trailer - Feios, sujos e malvados

Poster - Feios, sujos e malvados


Ettore, cineasta da melhor escola

Hoje pode-se incluir Ettore Scolla, 59 anos, como um dos cinco mais sensíveis cineastas do mundo. Excelente roteirista de comédias sociais dos anos 50/60 - a partir de "Canzioni Di Mezzo Secolo", 1952, de Domenico Paolela - estrearia como diretor em 1964, em "Fala-se de Mulheres" (Se Permettete Parliamo di Donne), com Vittorio Gassman. A partir de então, não parou mais de realizar filmes bem sucedidos, em diferentes gêneros - de comédias como "O Comissário Pepe" (1969) e "Ciúme à Italiana" (1970) a dramas intimistas como o belíssimo "Um Dia Muito Especial" (Una Giornatta Particolare, 77), na qual voltou a reunir Sophia Loren e o seu ator favorito, Marcelo Mastroianni, que buscou para inúmeros filmes - desde o quilométrico (título) "Conseguirão os Nossos Heróis Encontrar o Amigo Misteriosamente Desaparecido na África?" até o elogiado "La Terrazza", de 1979, que há 11 anos se espera que chegue ao Brasil.

Com outro de seus atores favoritos, o comediante Nino Manfredi, fez um drama social pungente, embora em ritmo bem humorado - "Brutti, Sporchi e Cativi" (Feios, Sujos e Malvados, 1975). Nos anos 80, após "Um Dia Muito Especial", Scolla fez experiências diversas: o mergulho crítico ha história ("Casanova e a Revolução", novamente com Mastroianni), um filme sem diálogos, num mesmo cenário ("O Baile"), uma crônica de 80 anos na vida de uma família, também num único cenário ("A Família", 1986), além da comédia (que permanece inédita) "Maccharoni", 1985, reunindo Mastroianni e Jack Lemmon.

No ano passado, Scolla voltou às telas com "Chere Orea É?", adivinhem com quem: Mastroianni, é claro.

Para muitos seu melhor momento foi "Nós que Nos Amávamos Tanto", 1974, no qual reuniu um superelenco - Gassman, Manfredi, Mastroianni, Aldo Fabrizi, Stefania Sandrelli e até, num papel pequeno mas importante, Frederico Fellini.

Feios, sujos e malvados

Em algumas seqüências de "Feios, Sujos e Malvados" alguns espectadores ensaiam risos. Mas parece não chegar a contaminar histrionicamente a ninguém. Ao contrário, há uma sensação de sufoco, de angústia, frente a imagens tão brutais, chocantes como a que Ettore Scola coloca neste filme denso e pesado, um documento amargo de nossos dias. "Feios, Sujos e Malvados" não é uma comédia, muito menos um filme agradável. Ao contrário: é desagradável a quem busca o belo, o colorido, o alienado. Mas é fascinante, série e importante - sem dúvida um dos melhores filmes do ano - para quem sabe exigir do cinema uma participação social. Com Scolla, o cinema italiano reassume a linha social que tão bem marcou o Neo-Realismo. Aliás, pode-se classificar "Feios, Sujos e Malvados" como um filme neo-realista - assim como o magnífico "Eles Não Usam Black-Tie" (cine Plaza, 4a semana) é também, a sua maneira, um filme neo-realista brasileiro - que reata as relações que Nelson Pereira dos Santos propunha há 27 anos passados em seu "Rio, 40 graus".

Focando toda ação numa família de favelados de Roma, "Brutti Sporchi e Cattivi" - que valeu a Scolla o prêmio de melhor diretor do festival de Cannes, há 5 anos - demorou para chegar. Suas imagens são contundentes e a realidade que espalha não são mera coincidência com o Brasil ou qualquer outro país subdesenvolvido. Aliás, por uma destas coincidências, o curta-metragem que o antecipa, sobre a vida do cientista Carlos Chagas, focaliza na última seqüência uma favela do Rio de Janeiro. Os casebres no alto - sobre a grande cidade. Momentos depois, é a favela de Roma - com suas habitações improvisadas, sujas, poluídas - em contraste com as cúpulas dos edifícios do Vaticano - vistas à distância, mas não tão distante que não passem a ironia e a crítica.

Scolla, um cineasta italiano de formação política vigorosa e cujo "La Terraza" (programado para o Brasil) venceu o festival de Cannes, há dois anos, não situa-se de forma panfletária ou maniqueísta em seu filme. Todos os personagens de "Feios, Sujos e Malvados" são colocados em seu deserdamento social, marginais da vida e convivendo animalescamente. A família de 15 pessoas que habita um casebre de duas peças, o patriarca (magnífica interpretação de nino Manfredi, possivelmente sua melhor atuação) que os humilha, a ganância pelo dinheiro, a entrada em cena da prostituta - uma presença felliniana, constituem - ganchos - para que, pouco a pouco, vários aspectos sociais sejam revelados/discutidos, mas sempre com uma consciência crítica - sem cair na separação de "bons" e "maus". Ao contrário, todos os personagens se apresentam , tal como o título - "Feios, Sujos e Malvados". Talvez a única exceção seja a personagem que abre e fecha o filme: a menina de botas amarelas que ao amanhecer na favela sai para apanhar água na bica comum. No final, a sua gravidez indica que a miséria, a luta pela sobrevivência, a sordidez terá seqüência naquele mundo sórdido, triste, marginalizado - mas admitido pela sociedade capitalista.

Com exceção de Nino Manfredi, não há atores ou atrizes conhecidos. Mas todos têm excelentes atuações, compondo tipos nauseantes em certos momentos (a seqüência em que se planejar a morte do velho pai, com o contraste da carne crua sendo devorada, é quase escatológica), mas que não poderiam aparecer de outra forma. Afinal, "Feios, Sujos e Malvados" não é um filme sobre ambientes sofisticados, romances cor-de-rosa e happy end. É cru, duro, violento como a vida - o que é mostrado nas imagens e na sua emocionante trilha sonora, de Armando Trovajolli.

Um filme marcante e inesquecível. Que merece ser visto por quem sabe apreciar o cinema com algo mais do que simples entretenimento.