quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Uma indústria a todo vapor



Por Cássio Starling Carlos
Diante do termo “indústria do cinema” muita gente ainda projeta o imaginário do capitalismo de séculos passados, com fábricas e usinas lançando em massa séries de produtos padronizados. Uma extensa reflexão “crítica” sobre os mecanismos da “indústria cultural” nos acostumou a enxergar, para o bem e para o mal, os filmes produzidos na escala hollywoodiana com as mesmas características que cobrem desde a fábrica de biscoitos até a montadora de automóveis. Como todo este imaginário, obviamente tais modelos de produção foram completamente ultrapassados.
Para saber de fato como são feitos os filmes que vemos hoje e que vêm daquele território que ainda chamamos de Hollywood uma leitura indispensável é um livro que acaba de ser lançado no Brasil pela Summus. “O Grande Filme: Dinheiro e Poder em Hollywood”, do jornalista Edward Jay Epstein, é um daqueles livros que todo mundo que consome filmes, games ou programas de TV deveria ler para saber como funciona a imensa máquina do entretenimento nos dias atuais e como ela se organiza para ocupar o que chamamos de nosso “tempo livre”.
A maior vantagem do esforço de Jay Epstein é ter recolhido uma enorme massa de informações, além de estudos históricos sobre o modelo e complementado com entrevistas. Com isso em mãos, o autor evitou produzir um livro para especialistas. Em vez de partir direto para análises, Jay Epstein adota a estratégia contrária, começando por estabelecer nexos entre a clássica Hollywood (a do sistema de estúdios, cuja crise começa por volta do fim dos anos 40) e a “nova” (a dirigida pelos interesses financeiros, capitais estrangeiros e apropriação prioritária pela indústria de equipamentos eletrônicos).
Para esclarecer a passagem transformadora entre as duas, o autor traça o percurso biográfico de seis executivos, todos de algum modo líderes de conglomerados de mídia e seguidores de lições ensinadas pelo pioneiro Walt Disney (segundo o autor, criador do novo sistema com sua lógica de oferta de produtos licenciados).Como toda transformação, esta também não foi súbita. Atravessou os turbulentos anos 70 e só se consolidou de fato a partir da década seguinte, com a entrada no mercado de duas novas formas de distribuição e consumo de imagens: os canais a cabo e o videocassete.
Evoluídos para formas muito mais maleáveis de circulação, como o VoD, TiVO e as mais recentes mídias digitais, tais formatos inverteram por completo o eixo da economia de produção das imagens. “Hoje, mais de 85% da renda dos estúdios provêm das pessoas que jogam games ou assistem a DVDs e televisão em casa”, esclarece Jay Epstein. Por maior que seja a bilheteria conquistada por um “blockbuster”, a arrecadação da exibição em salas de um filme é superada em cerca de cinco vezes pelo que o autor chama de “ponta final” _vendas para o consumidor doméstico, exibições na TV e licenciamento de produtos.
Enquanto isso, no Brasil, sobram defensores da reserva de mercado gritando argumentos em relação à ocupação obscena das salas de cinema pelas gigantescas produções americanas. À gritaria tampouco reagem os tubarões hollywoodianos, donos de um negócio que devora sem nenhuma forma de resistência a fatia muito mais polpuda do consumo doméstico. Ou alguém ainda acha que as enormes TVs de alta definição são usadas para decorar paredes?
Escrito por Cássio Starling Carlos às 10h14 AM

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